quinta-feira, 26 de agosto de 2010

3 Anos.

Quando as palavras não querem se organizar tomo algumas emprestadas assim como fiz com Rubem Alves na texto de abertura do mês, mas, às vezes a palavra escrita não é suficiente, recorro a palavra cantada e ela também não é, ai pego tudo, poesia, verso, imagem, voz, som....e sigo.

Em 31 de Agosto completará 3 anos de morte de minha mãe. Nunca falei muito sobre isso, dissem que os artistas tem mais facilidade de lidar com a perda pois, conseguem trasforma-lá em poesia, belas imagens, bons textos, tocantes músicas...talvez esse não seja meu caso até mesmo por não ser artista....mas como ando na onda de empréstimo intelectual, desta vez assalto o Clip da Música Dona Cilea de Maria Gadú.

Quando ouvi essa música pela primeira vez senti que me tocou, não sei sei se foi pelo momento, se foi pela letra. Não consigo detectar qual botão foi acessado, mas sei que foi. Quando vi o clip me emocionei pela sua simplicidade e verdade.

De uma coisa eu sei, conforme o tempo passa a ausência acentua. Ela devia ser minimizada, mas não é. Ela se faz presente dia a dia, mês a mês ano a ano.

"Se queres partir ir embora/Me olha de onde estiver/Que eu vou te mostar que eu to pronta/me colha madura do pé"

"Ò meu pai do céu limpe tudo ai/Vai chegar a rainha/Precisando dormir/Quando ela chegar/Tú me faça um favor/Dê um banto a ela que ela me benza a onde eu for."

Fica ai minha mensagem, fica ai minha saudade.

Gato.

Às vezes tento entender o medo que tenho de gato, sim, gato, o pacato, tem um famoso conhecido com Garfield tem uma gangue que se chama ThunderCats, sim, um bando deles e ainda tem poderes, posso? Tem de botas, preto, pardo, enfim... Se caçar tem de tudo que é tipo. Por mais que me esforce não consigo encontrar uma explicação racional, óbvio! Se fosse racional seria facilmente resolvido, é algo que está além, muito além da razão.
Quando ele aparece me sinto idiota. Esquivo do bicho, ele certeiro vem em minha direção. Não adianta tirar, botar pra fora, sem pressa ele vem, balança seu rabo, impõe, invade o espaço.
Meu medo tem cheiro, sensível como dizem, ele percebe e de longe não faz curva. Minha sorte é que sempre tem alguém no caminho que se assusta com minha reação e quase que num reflexo, parte na direção do bichano. Coitado, nem se da contado por que fora içado daquela forma.
Além de ridícula me sinto monstruosa, não há um que não tenha uma teoria de como ele é bonzinho, sensível, carinhoso, inofensivo, amigo, eteceteraetal. Paro e penso: Se ele é tudo isso, eu sou um monstro, correto? É! Correto! É com essa sensação que fico, por isso, não menos que isso evito a qualquer custo ir à casa que tenha gatos.
Respeito o espaço que o miau conquistou, não tenho intenção de competir, ele lá e eu aqui em casa de preferência no computador organizando minha cabeça em forma de frases.
Ainda racionalizar meu medo seja perca de tempo, ás vezes tento...até mesmo para mantê-lo vivo.
Penso que poderia trocar o medo de gato e começar temer pessoas. Parece estranho? Não é! Elas machucam muito mais, as feridas provocadas são profundas, o gato, coitado, o que poderia fazer comigo além de pequenas estrias na pele, estas cicatrizariam em dois dias no máximo. Posso até não recebê-las se o bichano for manso. Se eu tiver sorte, posso receber um carinho de seu rabo quando passar por entre minhas pernas. Agora, gente essa espécie não pensa duas vezes em passar por cima uma das outras o pior é que além da pata tem a palavra que corta como fel já vira o olhar? Esse fura profundamente.
O bichano, ainda que sinta o cheiro do seu medo ele se aproxima, tenta aconchega, dificilmente ataca. Agora tem gente que não sente nada, simplesmente ataca, assim, gratuitamente sem necessidade de defesa apenas pra constar apenas para machucar.
Ás vezes, digo que não, mas outras entendo meu medo de gato, não posso transferi-lo para pessoas, com essas, tenho que conviver todos os dias, se sentisse medo como sinto dos gatos, precisaria ir para outro lugar, onde essa espécie estivesse extinta ou nunca houvesse existido se fosse, eu deixaria de existir e deixando de existir não preciso ter medo senão tivesse medo apenas estaria não viveria, estar ás vezes não faz sentido, senão faz sentido, não faz sentido.

domingo, 1 de agosto de 2010

A pipoca


Pois é, estamos nós em Agosto. Não sou dada a esse mês, ele não trás o vento das boas lembranças. Mas, como tudo na vida, temos que passar por ele se quisermos chegar até as flores...

Para este início não posto um texto meu, sinto que as palavras um pouco cansada de minhas mesmices não quisseram se organizar em forma de frases, textos, elas continuam soltas em meu pensamento, eu como boa seguidora da liberdade resolvi por não domá-las e pedir socorro a quem tem mais habilidade.
Recorri ao Rubem Alves e ao seu celebre texto sobre A pipoca. Acho que é isso....que venha Agosto e que passe quando for a hora.


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre."


(....) Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que esta sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.


Rubem Alves