domingo, 1 de agosto de 2010

A pipoca


Pois é, estamos nós em Agosto. Não sou dada a esse mês, ele não trás o vento das boas lembranças. Mas, como tudo na vida, temos que passar por ele se quisermos chegar até as flores...

Para este início não posto um texto meu, sinto que as palavras um pouco cansada de minhas mesmices não quisseram se organizar em forma de frases, textos, elas continuam soltas em meu pensamento, eu como boa seguidora da liberdade resolvi por não domá-las e pedir socorro a quem tem mais habilidade.
Recorri ao Rubem Alves e ao seu celebre texto sobre A pipoca. Acho que é isso....que venha Agosto e que passe quando for a hora.


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre."


(....) Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que esta sendo preparada para ela. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras, a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.


Rubem Alves

Nenhum comentário:

Postar um comentário