segunda-feira, 26 de julho de 2010

Deixe entrar


Filha se você tivesse um namorado sua vida ia ser mais fácil. Ele podia te ajudar nesses problemas todos.
Foi mais ou menos isso que ouvi de uma amiga há duas semanas. Lembro-me que na hora tive uma reação reflexiva, não no sentido da reflexão e sim do susto, do reflexo. Respondi qualquer coisa dada a espontaneidade da fala.
Hoje, um tanto mais tranqüila penso que sempre atribuímos ao outro uma função, as pessoas tem que vir por algum motivo que não o simples motivo de estarem juntas vivendo o que a vida oferece e sim para que você não fique menos triste, menos sozinha, menos carente, menos...usamos ou, tentamos usar a outra pessoa como muleta para as nossas necessidades.
Não digo que as pessoas que aparecerem não poderão minimizar tais coisas, mas, se já vem com esse intuito atribuímos a ela uma responsabilidade que é nossa e não do outro e quando a muleta que o outro oferece é curta ficamos magoados, chateados achando que não temos sorte ou coisa do gênero, pior, quando encontramos uma muleta um pouco maior, mais resistente, ignoramos a que nos apoiou por certo tempo.
Ás vezes penso que relacionamento não pode ser tão diferente de ações que desempenhamos todos os dias, ele está para alguns assim como uma casa bagunçada está para uma visita, oras, não conheço uma pessoa sequer que ao receber alguém não acorda mais cedo, arruma a casa, limpa, perfuma, organiza a bagunça para que a pessoa que vai chegar tenha um ambiente limpo e confortável para ficar.
Há também aquelas pessoas que jogam tudo por debaixo do tapete, abre um sorriso e convida o outro a entrar, pena, pois a poeira não se sustenta por muito tempo amassada debaixo do tapete, como em um movimento osmótico a poeira começa subir e incomodar o nariz de todos, às vezes não sabemos ao certo de onde vem o incomodo, mas, ela está presente quase tão transparente como o próprio ar.
Exemplos não faltam, há aqueles que pedem para o outro entrar, pede desculpa e na frente do convidado quase que cegamente começa tirar tudo do caminho, limpa sofá, mesa, sacode a almofada, o outro percebe que aquilo lá está uma bagunça, mas, ainda assim, prefere sentar e aguardar, enfim, não há bagunça que dure a vida inteira.
Às vezes o dono do espaço está aguardando apenas uma pessoa, mas, ao abrir a porta percebe que existe mais de uma, o banquete estava preparado apenas para dois, como acomodar um terceiro? A salada não está tão completa, havia apenas duas taças de vinho, dois bancos... O lugar parece cada vez menor, e nem está tão arrumado assim, há uma série de coisas para colocar pra fora, jogar fora pra quem sabe todos consigam ficar um pouco mais confortáveis.
Não podemos esquecer daqueles que gostam de ficar trancados em seu espaço e, por mais que a campainha rompa o silêncio o ser não se move e por lá fica, agarrado em suas verdades, memórias, lembranças e alegrias, talvez, por incompetência de escolher a chave correta, talvez por preguiça, talvez por não ter tido muito tempo para arrumar o espaço da forma que gostaria. Talvez por abrir a porta atrasado.
Assim seguimos, outros tantos exemplos podiam ser relacionados, mas, não há uma receita, não há uma forma correta de recepcionar, de deixar entrar, o importante é saber que é alguém que está entrando e não uma coisa, esse “alguém”, tem sentimento, tem poeira, tem bagunça, tem história e tem que saber em qual lugar está pisando, se está tudo claro pra todo mundo, qual o problema? Abram as janelas, sacuda o tapete, coloque a vassoura para bailar nesse espaço, deixe tudo mais claro, mais leve, mais limpo...deixe entrar....

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