sábado, 9 de janeiro de 2010

Um Sonho...


Ás vezes não nos damos conta da importância de nossos sonhos. Eles, de certa forma estão conosco todas ás noites, ás vezes se manifestam nos deixando cansados, intrigados, confusos e com medo, ás vezes ficam lá perdidos na vastidão da mente e é bem provável que nunca serão descobertos.
De um tempo prá cá tenho prestando atenção nos meus, tarefa fácil, visto que a labuta diária tem ajudado na, não manifestação dos meus, mas, com a mente um pouco descansada essa semana tive um sonho curioso, talvez por ter vindo posterior a uma longa e esclarecedora conversa que tive com um amigo.
Meu sonho foi mais ou menos assim: Eu estava em um açougue com alguns amigos, por mais que pensem que eu não quero dizer o nome, na verdade eu não me lembro do rosto deles.
Um amigo estava na fila e dois outros garotos entram em sua frente. Eu, na tentativa de defendê-los falei: - Ei, a fila é lá atrás. Um dos garotos me olhou com indiferença e continuou. Eu o cutuquei e disse:- Você não me ouviu? Ele então sacou sua arma e apontou pra mim.
Em fração de segundos o tempo congelou e desse tempo só eu podia me movimentar,corri, procurei algum lugar para me esconder e o único lugar que encontrei foi o frigorífico, achei que era o melhor lugar pra ficar, e por lá fiquei.
Por mais que eu não tivesse um espelho pra ter noção de meu aspecto, tive uma tomada de consciência e consegui sair de mim e me observar por fora.
Meus pés não se moviam mais, minhas mãos gélidas, frias e sem vida não eram capazes de fazer mais nem um sinal. Meu tronco endureceu e meu sorriso congelou. Uma lágrima que ameaçava cair, não caiu. Ela ficou lá no limbo, entre a emoção da salvação e a certeza de um triste fim.
Minha imagem era terrível era o pior reflexo que podia ter de mim ou de qualquer pessoa; fria, inerte, sozinha e com uma série de parte de animais mortos congelados ao meu redor. É como se eu fosse um animal também. Um daqueles animais bem ariscos, talvez uma raposa, ou qualquer outro que corre solitário pelas savanas se defendendo de tudo e de todos lutando apenas pela sobrevivência.
Por mais que, externamente eu conseguisse me comparar com um daqueles animais que foram, criados, engordados e tratados para serem mortos, eu era humana, dessa linhagem da espécie humana sabe, essas que andam, comem... Alguém poderá me dizer, mas, os animais também comem,bebem e andam claro, mas, há sensações nos seres humanos que na espécie animal inexistem ou está em estudo.
Seres Humanos, se apaixonam, amam, pensam, choram, sentem e se lamentam entre outras tantas sensações.
Recordar disso me trouxe a luz, a clareza da sabedoria, da existência de que eu tenho um coração e ele, era o único que palpitava com dificuldades, mas, palpitava essa era a única centelha de vida que restava em mim.
Minha imagem externa se fundiu com minha imagem gélida e, aqueles movimentos que pareciam impossíveis começaram a se vestir de vida.
Meus pés com dificuldades convidavam os dedos para a aventura que era viver, o corpo todo foi tomado por essa energia, aquele medo que antes me apavorava derretia como o gelo e se afastava do meu corpo, por fim, consegui me reconhecer como gente novamente.
Saí do frigorífico e me coloquei diante daquele garoto que apontará a arma pra mim. Por mais que eu soubesse, por mais que eu tivesse certeza do que podia acontecer. Diante dele eu me coloquei.
O tempo retomou seu curso natural.
As únicas coisas que ouvia, eram gritos, choro e sofrimento, eu por minha vez tive novamente o privilégio de me desgrudar de mim.
A bala acertará em cheio meu coração, não tinha muito que fazer. Minha vontade era falar pra todos. Parem de gritar, não há muito que fazer, acabou! O que podia ser feito já foi. Essa foi minha escolha.
De lá fiquei por algum tempo me observando. Agora mais humana, com um sorriso largo no rosto, um vermelho vibrante jorrava de meu peito.
Antes de me despedir de mim, caminhei em minha direção: - As pessoas que estão me vendo, as pessoas que convivem comigo vão sofrer bastante ou um pouco, talvez chorem alguns dias, mas, elas vão acostumar a viver sem mim.
Enquanto minha imagem se acomodava naquele novo corpo, longe, o menino corria assustado, com medo, sem rumo. O outro permaneceu estático sem ação ficou lá, diante de mim observando a vida ir.

Por Renata Martins.

3 comentários:

  1. Um sonho todo vestido de vida
    uma escritora negando a escrita!

    André Amaral

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  2. antes que ele suma no horizonte, fico deitado no chão com um buraco na fronte, mas palavra viva é o que resta de monte, é o que resta de monte...

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